segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Anorexia:mais informações


- A anorexia atinge com maior freqüência mulheres (90% dos casos) na faixa etária compreendida 14 e os 18 anos, raramente ocorrendo após os 40 anos;

- Muitos acreditam que o portador de anorexia não sente fome, o que não é verdadeiro, pois o que ocorre é que apesar da fome ele se recusa a comer, o que aumenta ainda mais seu conflito e sofrimento;

- Alguns portadores desse transtorno apresentam episódios denominados binge, durante os quais comem compulsivamente grandes quantidades de alimentos e depois vomitam. Nesses casos dificilmente o paciente precisa provocar o vômito, pois o próprio organismo se encarrega disso;

- Os pacientes anoréxicos apresentam um ou mais dos sintomas abaixo descritos:
Recusa em manter o peso corporal em um nível igual ou acima do mínimo adequado à idade e a altura;

- Negação do baixo peso corporal atual;
- Medo intenso de ganhar peso mesmo estando com a massa corporal abaixo do normal;
- Visão distorcida negativamente do peso ou da forma do corpo;

Com o que não deve ser confundida:

A anorexia não é "frescura", vaidade excessiva ou loucura. É uma doença que como qualquer outra não surge por culpa ou desejo do portador, sendo assim o doente precisa de tratamento especializado, carinho e compreensão daqueles que lhe são próximos.


Anorexia não é sinônimo de bulimia, embora algumas vezes os dois transtornos possam ocorrer paralelamente. Na bulimia o paciente não consegue conter o impulso de comer excessivamente, e para não ganhar peso provoca o vômito e/ou faz uso de laxantes e diuréticos.

Sintomas:
- Recusa em manter o peso corporal em um nível igual ou acima do minimo adequado;
- Negação do baixo peso corporal atual;
- Medo intenso de ganhar peso mesmo estando com a massa corporal abaixo do normal;
- Visão distorcida negativamente do peso ou da forma do corpo;
- Amenorréia (ausência de pelo menos três ciclos menstruais consecutivos);
- Alguns pacientes manifestam sintomas depressivos como retraimento social, irritabilidade, insônia e interesse sexual diminuído;
- Dietas e jejuns sem orientação e acompanhamento médico;
- Exercícios físicos intensos, sem orientação e/ou acompanhamento especializados;
- Vômitos provocados;
- Uso desnecessário de diuréticos e laxantes.

Alterações:
A anorexia nervosa (AN) apresenta a maior taxa de mortalidade dentre todos os distúrbios psiquiátricos, cerca de 0,56% ao ano. Este valor é cerca de 12 vezes maior que a mortalidade das mulheres jovens na população em geral. As principais causas de morte são: complicações cardiovasculares, insuficiência renal e suicídio.
O diagnóstico diferencial do emagrecimento intenso que ocorre na AN inclui as doenças inflamatórias intestinais, o diabetes mellitus, câncer e hipertiroidismo.

Alterações metabólicas

As principais alterações metabólicas observadas em pacientes com transtorno alimentar (TA) são a hipercolesterolemia e a hipoglicemia. A hipercolesterolemia é freqüente na AN e sua causa não é completamente conhecida. Decorre, provavelmente, da redução dos níveis de T3 e da globulina carreadora de colesterol e/ou da diminuição da excreção fecal de ácidos biliares e colesterol. Quarenta por cento dos pacientes com AN apresentam uma elevação do colesterol total (CT), à custa do LDL-colesterol.
A hipoglicemia pode ocorrer após jejuns prolongados e cerca de 56% dos pacientes anoréxicos tem glicemia menor que 70 mg/dl.

Alterações endócrinas

O eixo hipotálamo-hipófise gonadal está alterado mesmo em pacientes com peso adequado, devido à redução na pulsatilidade da gonadorelina [luteinizing hormone releasing hormone (LHRH)] e conseqüente diminuição dos níveis de hormônio luteinizante [luteinizing hormone (LH)], hormônio folículo estimulante [folliclestimulating hormone (FSH)] e estradiol, resultando em um quadro de hipogonadismo hipogonadotrófico com irregularidade menstrual conduzindo a amenorréia. Apesar do mecanismo da redução desta pulsatilidade ser desconhecido, especula-se que esteja relacionado a concentrações anormais de neurotransmissores cerebrais, principalmente da serotonina.
A amenorréia pode ser acompanhada de várias anormalidades: regressão dos ovários para estágios pré-puberais com múltiplos pequenos folículos, regressão do tamanho mamário e, às vezes, perda parcial dos pelos pubianos. O útero, também se encontra diminuído e observam-se mudanças atróficas na parede vaginal levando a dispareunia e diminuição da libido. A infertilidade pode ocorrer, porém ovulações ocasionais podem acontecer.
Há ausência de supressão do cortisol basal com baixas doses de dexametasona, o que indica ativação anormal do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, semelhante ao que ocorre nos quadros de depressão endógena, caracterizando um quadro chamado de “pseudocushing”.
Clinicamente, o paciente pode apresentar pele seca e amarelada (hipercarotenemia), constipação, intolerância ao frio, bradicardia, e aumento do tempo de relaxamento do reflexo Aquileu, achado freqüente no hipotiroidismo.

Alterações ósseas e do crescimento

A puberdade e a adolescência são períodos críticos para o desenvolvimento do esqueleto, sendo responsáveis por 15% da estatura final adulta. Em 50% das mulheres com AN, a densidade mineral óssea está há mais de dois desvios padrões abaixo do normal.
A má nutrição reduz a formação nova de osso (“turnover”), que associada à puberdade atrasada decorrente da redução do estrogênio endógeno, ao hipercortisolismo, à diminuição da ingestão de cálcio, proteínas e vitamina D, favorecem à queda da densidade mineral óssea, levando a uma diminuição ou suspensão do crescimento ósseo linear. Quando a AN ocorre na fase precoce da puberdade, pode ocorrer osteopenia ou até mesmo osteoporose irreversível, favorecendo a ocorrência de fraturas patológicas.

Alterações hidroeletrolíticas

Neste grupo se encontra uma das complicações mais freqüentes dos TA e de maior risco para o desenvolvimento de arritmias cardíacas: a hipocalemia, que é causada pelo vômito, desnutrição e abuso de medicamentos depletores de potássio (diuréticos e laxantes). Os sintomas incluem fraqueza, confusão, náusea, palpitações, arritmia, poliúria, dor abdominal e constipação.

Alterações hematológicas

A anemia e a leucopenia são achados freqüentes na AN e BN. A anemia pode estar presente em 30% dos casos e é, usualmente, do tipo normocítica e normocrômica. Porém, também pode ocorrer anemia do tipo ferropriva, em decorrência da deficiência de ingestão de ferro ou de sangramento retal por uso excessivo de laxativos.

Alterações dos fâneros e alterações visuais

Uma pele pálida, seca, sem brilho e, por vezes coberta por uma fina camada de pêlos (lanugo) são achados freqüentes na AN.
Pode ser ainda observada uma coloração amarelada da pele, decorrente dos níveis elevados de caroteno.
A diminuição dos caracteres sexuais secundários e a perda do contorno do quadril e nádegas são outros achados comuns da AN. Os pêlos e cabelos encontram-se ralos, finos e opacos, muitas vezes quebradiços e avermelhados (típicos da desnutrição). As unhas podem se encontrar quebradiças e com crescimento lento, favorecendo o desenvolvimento de onicomicoses.

Alterações cardiovasculares

A hipotensão arterial pode ser encontrada em até 85% dos pacientes com AN e resulta do estado de depleção crônica de volume circulante.
Pode ser encontrada bradicardia decorrente da redução do metabolismo em adaptação a inanição, por alterações na conversão do T4 em T3 ou por hiperatividade vagal. A taquicardia pode também ocorrer como resposta à desidratação. A desnutrição decorrente da AN pode conduzir à atrofia do músculo cardíaco.
É importante aqui ressaltar que, durante o tratamento os pacientes com AN podem apresentar a chamada síndrome de realimentação. Esta síndrome é caracterizada por um colapso cardiovascular após a introdução da alimentação em um paciente desnutrido. Ocorre devido a sobrecarga de ingestão calórica na presença de reduzida capacidade do sistema cardiovascular.

Alterações pulmonares

O edema pulmonar pode ocorrer secundário à falência cardíaca congestiva na síndrome de realimentação.

Alterações renais

A concentração urinária pode estar reduzida devido a níveis flutuantes de ADH (alteração hipotalâmica promovendo diabetes insipidus parcial) e da grande ingestão de líquidos de baixa caloria. A redução da osmolaridade da medula renal (denominado de fenômeno da medula lavada), a inanição e a diminuição da uréia levam também a diminuição da concentração urinária. Como conseqüência da desidratação, pode ocorrer azotemia pré-renal em até 70% dos pacientes com anorexia nervosa.
A desidratação crônica e os níveis elevados de oxalato de cálcio favorecem ao desenvolvimento de cálculos renais.

Alterações gastrointestinais

A constipação está entre as manifestações mais freqüentes na AN e BN e decorre do uso de laxantes que, se utilizados em longo prazo, podem levar a danos irreversíveis ao cólon intestinal (cólon catártico). Nos pacientes com características purgativas pode se observa eritema do palato, faringe e gengiva e alterações dentárias como erosão do esmalte dentário que fica com aspecto liso e opaco. Os dentes mais acometidos são os incisivos e caninos; as cúspides dentárias podem se apagar reduzindo a altura do dente e há também um aumento da incidência de cáries.
Tratamento

O tratamento é realizado uma equipe multidisciplinar que é formada por psicólogo, pediatra, psiquiatra, nutricionista e clínico para cuidar dos problemas emocionais e também dos transtornos alimentares. O principal objetivo é a recuperação do peso corporal através de uma reeducação alimentar, terapia, psicoterapia individual e orientação familiar. O tratamento é demorado e difícil.

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